Armando Reverón en el documental de Margot Benacerraf (Venezuela, 1952).

Armando Reverón en el documental de Margot Benacerraf (Venezuela, 1952).


la rebelión consiste en mirar una rosa

hasta pulverizarse los ojos


Alejandra Pizarnik


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Beatriz Iriart: Poemas e conto dedicados às vítimas do Holocausto.



 



 “Prezada Beatriz, seus textos são muito comovedores e com certeza poéticos sobre um tema acerca do que não  é fácil fazer poesia. E não se trata duma dor judia senão duma tragédia simplesmente humana.
 Obrigado por compartir esses textos comigo. Carinhosamente"













ÂNSIAS


                  Aos sobreviventes do Holocausto
Tenho-lhe sonhado tanto
nestes dias de ensopado e pão
Tenho-lhe sonhado tanto
com a geada e a esfumação
com as cadeias lacerando os tornozelos
com o terror
instalado na  barraca.
Tenho-lhe sonhado tanto
LIBERDADE.


© Beatriz Iriart





 

A EXPOSIÇÃO
                              
                             “Só o trabalho os fará livres”
                             (Lenda do campo de concentração de Auschwitz)

Tiraram bilhete para a próxima estação. O motorista tratou-os cortesmente
Intercambiaram opiniões, lembranças e algum futuro próximo. Arribaram. As
melancólicas notas envolviam a névoa  de manhã-cedo.
Pronto começariam as tarefas no ateliê. A música deslizava-se
docemente. Desnudaram-se, a higiene era a disciplina fundamental para essa
Face da arte. As duchas ajudariam isso.
Os acompanharam até a descomunal exposição, ante a imensa colagem
onde haviam sonhos, ossos, ilusões, medos, mas nenhum rosto.





EU ESTIVE...
                      
                    À memória de Primo Levi
                        27 de Janeiro de 2006


Eu estive em Auschwitz.
Eu pari filhos
De amargura, dor e espanto.
Eu andei descalça
na lama dum campo sem flores cegadas
igual que as sementes frescas
De nossos rebanhos.
 E hoje a os 61anos
da liberação do campo:
Sou uma sombra,
 Uma mulher sem rosto.
A desolação e a fome
Eu...
Eu estive em Auschwitz.

O ESCULTOR

                      À memória da Anna Frank

Possuir uma colher-faca
é converter-se em ávido escultor.
Há que localizar
um pedaço de latão e que aflore
para não se desperdiçar
nem uma gota do guisado.
e  com a faca
cortamos o pão
para trocá-lo
por outras coisa
mais úteis.
Sim, possuir uma colher-faca
Nestes dias,
É toda uma arte.






NÚMEROS
       
                     À memória de Itsjok Katzenelson

Não pergunte, não espere resposta
diante das “bestas” somos uma coisa
uma carga
que odeiam e justificam.
A barraca está gélida
Como o inverno ali fora.
Só a lembrança da terra natal
é cálida e boa para cochilar
com esse sabor amadurecido.
Não há saída
nestes campos.
Mas pode esperar
uma “seleção”
metamorfosear-se em pássaro
ou simplesmente esperar
um disparo de “ocasião”






POLÔNIA
O "Wolf" promulga
“desenhar” meticulosamente
o campo deTreblinka
e o nazi Stangl responde
 Infinidade de almas
jazem ao finalizar  “as entregas”.
Caiu o telao.
A obra não é a mesma
mas o atavismo segue vigente
em outros tempos
outros âmbitos
outros estigmas
outras essências…
que a través das centúrias recebem
a perdurável panacéia de SIMÃO:
“EU NÃO LHE ESQUECI”.

A NOITE DOS CRISTAIS QUEBRADOS

Sonharam que a vida fluia.
Acordaram circundados por massacres
geada, vidros, aramados
e tormentos.
Seus nomes já engrossavam
a lista dos seres tesos. 



Tradução:  
Alejandra Rodrigues Matias (alita_matias@hotmail.com)