la rebelión consiste en mirar una rosa

hasta pulverizarse los ojos


Alejandra Pizarnik


ETIQUETAS

O teatro das exclusões e a homenagem a um cartunista maravilhoso, por Floriano Martins, Aguhla Revista de Cultura #219, dezembro 2022, Fortaleza, Brasil

 ∞ editorial | O teatro das exclusões e a homenagem a um cartunista maravilhoso

 


00 | O que leremos a título de editorial nesta edição da Agulha Revista de Cultura é parte de uma homenagem nossa ao grande cartunista brasileiro, Luiz Sá (1907-1979). O jornalista João Antonio Buhrer, ao longo de suas conversas através de e-mails com outro magnífico artista, Zuca Sardan, foi anotando suas falas sobre Luiz Sá, por quem sempre teve declarada admiração. Nas últimas semanas conheci o João Antonio e de imediato aceitei a sua proposta, feita em parceria com o próprio Zuca, de publicar esses recortes em nossa revista. Logo pensei que poderíamos ampliar o gesto e ter presente conosco o Luiz Sá como nosso artista convidado, justamente agora que estamos concluindo o último mês de um ano em que todas as edições da Agulha Revista de Cultura foram dedicadas ao Surrealismo em sua visão mais ampla, suas variações, dissidências, desdobramentos. Tomada a decisão nos pusemos os três, Zuca, João e eu, a selecionar as 48 imagens da obra de Luiz Sá, espalhadas por toda a revista. Comecemos pela fala do próprio João Antonio Buhrer, a quem agrademos imensamente.

 Floriano Martins













***

 


Quando conheci Zuca Sardan, via email, há poucos meses, entre nossas conversas fui percebendo o seu grande interesse pelo artista cearense Luiz Sá, um dos grandes nomes da caricatura brasileira, do século XX. A paixão pelo Sá eu também comungo, e por incrível que pareça conheci a obra de ambos ao mesmo tempo. Foi no início dos anos 1980, através do catálogo de uma exposição do Luiz na Funarte. Com o Zuca foi na revista Poesia Livre, em que apareceu ilustrando a capa, na forma de um carimbinho, um curioso desenho de um tocador de realejo, que agora sei foi tirada do livro Visões do Bardo. Por quarenta anos sempre associei um ao outro, e não é que estava certo? Nas minhas conversas por e-mail com Zuca, fui obtendo estes depoimentos memorialísticos dele sobre o artista Luiz Sá, e aí sugeri ao Floriano Martins, que espeta mas não fere, a publicação destes textos nesta sua revista. Também agradeço neste momento ao artista e pesquisador cearense Weaver Lima, grande conhecedor de Sá, ao qual me socorri para mixar e/ou ilustrar estes textos de Zuca. [João Antonio Buhrer]

 

01 | As costelas do reino e seus lugarejos quase invisíveis. Há um abismo plural decidido a devorar cada corpo que passe por ali. A verdade é que acordamos sem saber o que faremos com nosso corpo. Por mais que o espírito professe as suas curvas mais loucas, o corpo pode não passar de um artifício emocionado do descaso. Uma voz escondida no interior de um caixote de madeira prensada. Uma ilusão mitológica dessas que assombram a passagem das horas. Os pares encardidos nos becos fustigando a crueza de um amor banal. O corpo se estreita pelos recantos mais afunilados. Como esses móveis privilegiados da transgressão. Ou o descalabro impotente de certas linguagens desesperadas que se dirigem a um retiro à espera da morte. Como esperar pelo humor da dialética do dia seguinte? Como entender que a diferença pode às vezes não passar de um deslizamento do conflito? Enquanto roçamos nossos corpos no alvoroço da paixão não duvidamos das razões da elipse. Amanhã estaremos uma vez mais nos desconhecendo na obscura intenção de explicar o que cedo ou tarde tornaremos a encontrar. Mas não somos senão artificiais em nossos fogos cruzados. A história não tem antecedentes que a justifiquem ou a ensinem a ser de outro modo. Toda história é uma impostura, uma piada que se desgasta no riso, uma ejaculação de escombros. Sempre que nos debruçamos sobre seu ela, vemos seus fantasmas improvisando o mesmo teatro de exclusões.

 


02 | O farol da patafísica e Luiz Sá, nas palavras de Zuca Sardan

§ Luiz Sá, aqueles números coloridos do Reco-Reco, Bolão e Azeitona são impagáveis, e os anúncios de remédios contra sífilis, são patafísicos!… Valorizo o Luiz Sá como o lançador do cartum patafísico no Brasil, coisa que ninguém percebeu, só raras pessoas ouviram falar de Patafísica, ou de Jarry, do Père Ubu, ou do Doutor Faustrol… (provavelmente tampouco o próprio Luiz Sá). Na minha juventude era só Jorge Amado, o único escritor brasileiro vivo conhecido no estrangeiro, e sobretudo na União Soviética… Uma vez que fui visitar Berlim Oriental, ainda no tempo da Alemanha Socialista, e me interessei em conhecer a Universidade de Berlim (que na divisão da cidade, ficou no lado oriental), falei com um professor, por sinal muito simpático, que era o titular da cadeira de literatura do Brasil. E no meio da conversa, me revelou que ele era especialista em Jorge Amado, que teve várias obras publicadas na DDR, e nem ele nem ninguém na RDA conhecia outro autor… Hoje em dia… o único escritor brasileiro conhecido na União Europeia é o… Paulo Coelho. E a culpa desse descaso é nossa, que não damos um tostão para o apoio cultural…

 

§ Luiz Sá foi e é um ilustrador humorista muito engraçado, que era ativo desde o início da década dos 30s, fez uma longa carreira no jornal infantil O Tico Tico, onde criou a famosa trinca Reco-Reco, Bolão e Azeitona. Inventor de um estilo de bonecos muito engraçados, Luiz Sá aceitava qualquer encomenda, para qualquer assunto. Havia no começo dos 30s uma campanha médica encarregada do combate à sífilis, que seguia no Brasil sendo um flagelo terrível. Luiz Sá aceitou a encomenda sem pestanejar e fez os anúncios contra a sífilis n’O Tico Tico, com os letreiros solicitados pela direção da Campanha, mas… com seus bonecos de uma comicidade irresistível em cenas com diabos de narigão colossal e boca escancarada em enorme gargalhada, e o doente apavorado na cama segurando a garrafa de um xarope contra a tosse, de que o produtor lhe pagara um extra para inserir a garrafa no desenho da sífilis. A direção d’O Tico-Tico, benevolente, e satisfeita com o tutuzinho extra que entrava na caixa, e não vendo nenhuma porcalhada nos anúncios sempre alegres do Luiz Sá, deixava o barco correr… E assim Luiz Sá criou o Humor Patafísico, sem que ninguém percebesse a sua importância para a História da Arte no Brasil. O Tico Tico faliu, esmagado pela concorrência do Gibi (d’O Globo) que trouxe a preço de banana os comic-strips dos USA… Na década dos 50s, Luiz Sá seguiu fazendo seus desenhos, primeiro para charges políticas e esportivas para o cinema no chochíssimo noticiário brasileiro semanal, de que o único sucesso eram as suas charges, e paralelamente para a revista política semanal O Malho, que tinha sua graça. Já no finzinho da vida, Luiz Sá doente, desenhava na cama do hospital para uma revista de humor chamada O Bicho, editada por Fortuna.

Sim, Gordito Fabergé foi grande leitor do Tico-Tico: Luiz Sá com Reco-Reco, Bolão e Azeitona; Max Yantok, creio, desenhava um senhor aristocrático e seu secretário, e um armário cheio de gavetas, donde saiam jacarés, pessoas, elefantes… Faustino e Marocas, dum cartunista americano de excelente traço. Havia o Chiquinho, inspirado num menino louro super-chic, de um cartunista americano de estilo Art-Nouveau… E outros cartunistas com personagens mais brasileiros… coisas que vi há mais de 80 anos atrás, e que lamento nunca houvessem pensado nossos editores em reeditar os preciosos números do Tico-Tico!… Havia ainda a revistinha Gibi, semanal infantil, d’O Globo.

Como espalho desenhos para pessoas amigas na Europa e USA, que não sabem português, prefiro cartuns sem bolhas de letras, para serem internacionais. Salvo em casos que quero fazer alguma graçola idiomática… ataco com bolhas, seja em Português, seja em alguma língua estrangeira macarronizada.

Primeiro de todos, o inventor da história-em-quadrinhos, o caricaturista-poeta Wilhelm Busch (1832-1908), autor das aventuras de dois meninos, Max e Moritz, dois pirralhos que aprontam dez mil travessuras… Os diálogos vinham numa faixa em baixo do quadrinho. O inventor das bolhas (dos balões) foi um desenhista alemão naturalizado norte-americano que se inspirou diretamente de Wilhelm Bush, na virada do sec. XIX para o XX, com dois endiabrados meninos que falavam um inglês alemanizado, e todos os personagens, inclusive o Capitão e a mãe dos dois garotos, viviam em uma colônia alemã nos trópicos… No Brasil, os meninos se chamavam Hans e Fritz. Dos cartunistas brasileiros, o Mestre é o nosso genial Millôr Fernandes… Mas não podemos esquecer Nássara, Jaguar, os Três Ases da Folha SP, e os caricaturista da Careta. Ao longo de toda a primeira metade dos 1900s… o Barão de Itararé que no seu pasquim A Manha rabiscava em cima das fotografias, e se esmerava em poesias macarrônicas.

§ Bravooo, João!… Conforme você já terá notado, na Agulha Revista de Cultura, todo número apresenta um artista plástico homenageado. Você poderia propor que o artista convidado fosse o Luíz Sá, e apresentaria ao Floriano páginas de desenhos do Sá: a) Reco-Reco, Bolão e Azeitona em cores fulgurantes; b) a série patafísica de terror dos desenhos dele para ilustrar pareceres do Instituto Thalassa, Doutor Fulantrol dá conselhos preventivos. Há reproduções de anúncios de remédios que saíram n’O Tico-Tico, tem o de um xarope Torax de uma Dona Tia Preta Pacifé, que é para tosse, mas no anúncio diz que também é eficiente contra a sífilis… e o Instituto Thalassa protesta indignado da irresponsabilidade da Tia Pacifé, não há xarope contra tosse que cure sífilis. Há ainda uma outra doença terrível da época, e o L. Sá apronta um desenho genial, com o Capeta na gruta ferrando o Fulano. Este lado do Terror Festivo, que só o L. Sá soube criar graças à sua alegria espontânea genial, que é o que há de mais SURREALISTA possível. É nesta tecla que deves tocar. E concentrar a iconografia na trinca RBA e nos desenhos da Peste… Não apresente os desenhos esportivos, ou da Girafa Fafá… Concentre-se na série RBA e… nos desenhos medicinais, que, delícia das delícias, saíram no Tico-Tico!…

§ Formidável. Vendo os quadros de uma exposição de Luiz Sá de 1934 você sente o caminho que haverá de tomar seu trabalho, para uma radical simplificação. Luíz passou da pintura para a caricatura certamente por razões econômicas, porque a pintura no Brasil até os 40s não tinha mercado. E a caricatura desde os tempos do Império, pelos jornais despertava grande interesse e os caricaturistas de renome recebiam seu salário. E, na virada do Século, n’O Tico-Tico, o cartunista já podia criar desenhos com maravilhosa explosão de cores, e tal foi o caso do Luiz.

Lembro-me ter lido, há muito tempo, uma reportagem concedida pelo Luiz, em seu leito de hospital, em que ele explicava que os padres lhe disseram que poderia fazer caricaturas de santos, desde que o Santo não aparecesse. Donde lhe veio essa ideia de substituir o Santo por um facho de luz.

Nesta exposição – Galeria de quadros célebres, de 1931 –, há um interessante fundo sócio-político, que o Luiz habitualmente evitava, de modo a não se desviar de sua linha alegre e livre, como tinha sido seu sucesso n’O Tico-Tico. Dos quadros, para mim o mais interessante é o do Padre Tomás assistindo a bela desfalecida Moema… e o caranguejo, à esquerda, de pinças abertas…

Os quadros do Luiz são muito interessantes, mas não creio que pudessem atrair clientes na burguesada chique de então. Precisava vir a Semana d’Arte Moderna, SP, de 22.

Luiz Sá tem um traço de uma leveza e graça inacreditáveis!!! Merciiii!!! Um presentaço pro fim de semana!!! Veio-me a lembrança sua impagável trinca Reco-Reco, Bolão e Azeitona, que vinham na última página d’O Tico Tico!!!… Depois que o Tico-Tico acabou… Luiz Sá começou a fazer umas charges que vinham num jornal documentário de notícias, no início de cada nova notícia… Getúlio discursando, Marechal Dutra, cerimônia religiosa com o Bispo Barrigone, festinha chic, o Zepelim sobrevoando a cidade etc. etc. O que valia da xaropada só as charges do Luiz Sá.

Creio que também foi muito ativo em O Malho, um semanário que tinha em todas as mesas da saleta de espera das Barbearias… Tenho quase certeza que o Luiz Sá era um dos caricaturistas especialistas no Getúlio, assunto delicado e perigoso.

Luiz Sá tem um traço leve, alegre, e magnífico!… Reco-Reco, Bolão e Azeitona é uma obra-prima da nossa HQ que espero um dia receba a edição que merece. Ele nos passou uma mensagem de alegria e fraternidade, bem marcada de brasilidade. Embora não o tenha conhecido pessoalmente, voto por ele uma grande amizade.

Zuca Sardan

Luiz Sá é imbatível. E sua campanha de leite e purgantes e anúncios é realmente impagável. Parece o Sonho de um Brasil que hoje pouca gente entenderia.

Impagáveis e as mais justas possíveis!!! Este texto da Campanha do Leite é de um Humor Visível e Invisível absolutamente extraordinários.

§ Olá, João!, nosso Luiz Sá é de uma atividade assombrosa… A folha de ontem, que me passaste, de 1933, com uma Apologia do Leite… é de um Humor Negro de magistral acaso objetivo. Os bonecos engraçadíssimos e ingênuos do Luiz Sá fazem uma vigorosa campanha pelo leite, por seu destacado valor do para a saúde, que vem envolta numa moldura negra com anúncios sinistros de Elixires, que vieram dar apoio à campanha benéfica do leite, mas também… um à direita é de uma bruxa africana Dona Binga, que faz o panegírico de seu xarope milagroso, que tem o mesmo valor nutritivo que o leite do Luiz Sá pra Saúde, e é especial pra cura da Sífilis… e no final do show, na parte de baixo da página, Doutor Carcanha apresenta, suas desculpas pela condenável invasão da página pelos falaciosos representantes dos elixires para a suposta cura da sífilis. Enfim, um surpreendente capalovaro improvisado.

§ Olá, João, esses almanaques que você descobre, são uns Tesouros da Patafísica!… A alegria inocente do Luiz Sá, que se diverte com as mais pavorosas atrocidades!… Suas charges são impagáveis dos contrastes entre o traço leve e os temas trágicos. Lembro-me que nos seus últimos tempos, num leito de Hospital Cristão de Caridade, seguia desenhando suas ilustrações para os sermões dos padres aos pacientes moribundos…

Este Almanaque é uma delícia. As estampas do Luiz Sá em verde ganham um charme especial. O texto do Almanaque é uma preciosa mina de auto-paródias patafísicas. Ma-ra-vi-lha!! Tens um olho-de-lince, João, descobres preciosidades!… Bravooo!!

Você poderia fazer um paqueno folheto, com coisas do Luiz Sá. Sobretudo os cartuns que tratam de doenças graves e medidas de higiene. São impagáveis pelo contraste que estabelecem. O Luiz Sá, que sempre admirei, ora me traz à lembrança o Joâo Nariz (O Garimpeiro do Rio das Garças), uma história altamente ilustrada, praticamente um HQ, com um desenho de grande vivacidade, num livreco quadrado atarracado, deveria uns 12x12 cm, volume gorducho e compacto, tenho a impressão que daria pra fazer cineminha volteando as folhas com velocidade, e que contava a história dum garimpeiro, Zé Nariz, às voltas com bandidos que lhe queriam afanar a colossal pepita de ouro que ele havia descoberto, no pequeno riacho. Eu cheguei a te passar o Guinhol do Zé Bong?… Só recebi resposta de pessoas no estrangeiro… artistas direta ou indiretamente ligados ao Surrealismo.

§ Maravilha, Joäo!… Talvez um dia possamos publicar o Luiz Sá. Vá dando uma sondada de leve, quando a coisa estiver mais avançada, na tua posição de escritor da Agulha Revista de Cultura, poderás sugerir fazer um artigo ilustrado sobre o Luiz. Aposto que o Floriano topará. E depois então, sabe-se lá, um livrinho LS com tua apresentação na Editora da Agulha, o Floriano é bem atilado e vai sacar a importância do lance. Bem planejado o lançamento, poderá ter um surpreendente sucesso.

 

03 | LUIZ SÁ (Brasil, 1907-1979). Nosso artista convidado. Caricaturista brasileiro, criador dos personagens Reco-Reco, Bolão e Azeitona que, durante anos, apareceram na revista infantil O Tico-Tico. Foi também responsável pela criação de uma série de curtas de animação que ficou perdida por anos, As Aventuras de Virgulino. Seu desenho é caracterizado pelo uso quase exclusivo de linhas curvas, tendo quase todos os seus personagens os rostos bastante arredondados. Por volta de 1950 Luiz Sá muito contribuiu ilustrando panfletos educativos e relacionados com a saúde publicados pelo então Ministério de Educação e Saúde no Rio de Janeiro, como uma ilustração abaixo do texto “Quem come a galope, o intestino entope”. É um dos mais originais, significativos e emblemáticos artistas de toda a história do desenho de humor nacional, tendo sido o primeiro cartunista brasileiro com características de artista popular a conquistar visibilidade nacional. Desde os primeiros desenhos publicados ainda na imprensa cearense em 1927, passou pelos cartuns, ilustrações e histórias em quadrinhos produzidos para os mais diversos meios a partir de 1930.

Floriano Martins 

 

 

∞ índice

 

ALBERTO CLAUDIO BLASETTI | Encuentro con Juan José Ceselli

https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2022/12/alberto-claudio-blasetti-encuentro-con.html

 

ANA CRISTINA JOAQUIM | Herberto Helder e a poesia surrealista portuguesa: aproximações da arte da performance

https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2022/12/ana-cristina-joaquim-herberto-helder-e.html

 

ANTÓNIO CÂNDIDO FRANCO | A situação espiritual da poesia de Manuel de Castro

https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2022/12/antonio-candido-franco-situacao.html

 

APRIL D. FALLON | Not Merely Object and Image: The Surreal and Pre-Raphaelite Influences in Lorine Niedecker’s Poetry

https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2022/12/april-d-fallon-not-merely-object-and.html

 

CLAUDIO WILLER | A poesia de Roberto Piva e o Surrealismo

https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2022/12/claudio-willer-poesia-de-roberto-piva-e.html

 

CLAUDIO WILLER | Uma série sobre surrealismo e cinema

https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2022/12/claudio-willer-uma-serie-sobre.html

 

FLORIANO MARTINS | Max Ernst y los velos quitados en plena danza

https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2022/12/floriano-martins-max-ernst-y-los-velos.html

 

JOSÉ ÁNGEL LEYVA | Floriano Martins, Una aguja en la Red del mestizaje

https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2022/12/jose-angel-leyva-floriano-martins-una.html

 

MERCEDES JIMÉNEZ DE LA FUENTE | La joven Leonora Carrington y el movimiento surrealista

https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2022/12/mercedes-jimenez-de-la-fuente-la-joven.html

 

MONIQUE JUTRIN | Más allá de la vanguardia: Benjamin Fondane

https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2022/12/monique-jutrin-mas-alla-de-la.html 

 

Luiz Sá




Agulha Revista de Cultura

Número 219 | dezembro de 2022

Artista convidada: Luiz Sá (Brasil, 1907-1979) 

editor geral | FLORIANO MARTINS | floriano.agulha@gmail.com

editor assistente | MÁRCIO SIMÕES | mxsimoes@hotmail.com

concepção editorial, logo, design, revisão de textos & difusão | FLORIANO MARTINS

ARC Edições © 2022

 






                


 

∞ contatos

Rua Poeta Sidney Neto 143 Fortaleza CE 60811-480 BRASIL

floriano.agulha@gmail.com

https://www.instagram.com/floriano.agulha/

https://www.linkedin.com/in/floriano-martins-23b8b611b/

    http:// arcagulharevistadecultura. blogspot.com/ .

  



CUENTOS DE LA GAVETA: Reflexiones de momentos, por Armando Africano, Caracas, 5 de febrero de 2016 / Ilustración: Lisardo Rico Rattia

 




 

Hoy es uno de esos días en que quiero escribir, aunque no tenga nada cuerdo que decir… busco… y dándole vueltas a mi vida, a través de mis recuerdos y mi pendrive, me planteo lo rápido que se me ha pasado la vida, haciendo mil cosas yyyy me viene a la mente que pertenezco a la generación que tenía una sola obligación… ser feliz. 

Ya he demostrado minuciosamente quién soy, como ser humano, como prójimo, como estudiante, como profesor, como amigo, como compañero de trabajo, como familia, hasta como bufón de las oficinas donde he laborado; he mostrado mis sentimientos, mis defectos, mis virtudes, mis estados de ánimo, mis actos malos y buenos, mis errores, mis aciertos… ya lo que me queda por hacer es repetirme,  porque no puedo cambiar, seguiré mi vida, con mis inevitables repeticiones.

Desde mi jubilación, ensayo cada día cómo pasarla mejor, como distraerme y divertirme un poco. Intento disfrutar, haciendo lo que me hace sentir bien: tomando café con alguien, tratando de escribir y hacer teatro, hablando por teléfono, escribiendo chistes estúpidos en Facebook o cursilerías a mis amigas más queridas, cantando duetos a gritos con algún cantante conocido (gracias a YouTube) con la computadora… yyyy a veces, prefiero no hacer nada, no pensar, porque me frustra no poder planificar mi vida “nueva” para después de mañana.  

Es difícil aprender a vivir conmigo mismo, siento que definitivamente después de haber hecho tantas cosas, debo encontrar la fórmula mágica de la vida, pasan días que quiero dejarlo todo y días de querer comenzar todo (nuevo o diferente) yyyy también, en quedarme ahí, en el mimismo… para siempre.  

 

Pienso que ya la palabra tristeza perdió su significado, el tiempo y las experiencias nos hacen cambiar hasta los sentimientos. Cuando leo una de tantas malas noticias o me participan de una desgracia cercana o lejana, me conmueve el hecho y me preocupan los que quedan con ese dolor tan grande, y las frases de consuelo me suena vacías,  las prehechas como… pero quedó vivo…gracias a Dios no le hicieron daño, las cosas materiales se recuperan, etc., nada de esa vaina sirve. Si es una noticia inesperada que me estremece, me viene gritar de impotencia las mismas y repetidas groserías de toda la vida, que mejor las llamaría gritos de consuelo o de desahogo emocional, porque las emociones y sentimientos están ahí y pronunciar algunas con fuerza y determinación, ayudan a hacernos sentir un poco menos mal.

¿Qué hacemos? Para mantener la esperanza, encontrar algo que te motive positivamente. Es lamentable y preocupante que la vida se te pueda estar oscureciendo, que a veces no le vemos el comienzo de algo nuevo, bonito, positivo, hay momentos que te desconcierta el no sentir algo emocionalmente tangible.  

Podremos pensar en algo más allá de nuestro día a día, que Dios nos guíe y bendiga, porque siempre terminamos preguntándole a él, el por qué, no podemos permitirnos dejar que se nos apague la luz.

Sé que ninguna palabra, ningún abrazo, ningún gesto, en esos momentos nos confortará, pero estoy seguro que puede ayudarnos a saber que no estamos solos, que somos muchos con el mismo deseo… la tranquilidad, la paz interior y que las muestras de afecto, de solidaridad, de generosidad, nos movilizan esa luz interna y nos produce emociones bonitas. 

Con tus rabietas y amarguras lo único que cambia en tu vida es tu salud y la situación de tus seres queridos más cercanos. Tenemos que hacernos responsables de nuestro comportamiento, de nuestra salud mental, de no alterarle la vida a nuestros semejantes. Mafalda decía “Mi problema son los demás” y “los demás” somos nosotros, que debemos revisarnos, revisar nuestros “detalles” de convivencia, tratar de crear nuestro propio mundo íntimo, de paz.

Nunca podemos volcar nuestras frustraciones en el trato a los demás, debemos buscar cómo ser felices, internamente, a escondidas, en tu soledad, por tu beneficio y salud, si quieres o si te provoca. 

Los “demás” que uno quiere y sigue queriendo a pesar del tiempo y la distancia, ya están identificados y resguardados muy celosamente en nuestro corazón, y les deseamos lo mejor, y les enviamos saludos, bendiciones, abrazos, besos, dedicatorias cursis, cuentos, chismes, etc., etc., etc. Nuestro mundo íntimo mejora un poquito cada día si encontramos nuestra propia paz, si encontramos nuestra propia formula de disfrutar esos toques de felicidad que vienen a tu encuentro, y tratar siempre de aprender a disfrutarlos… uno se va acostumbrando a engrandecer momentos.     

Prueba a hacerlo. “Y sin esperar respuestas”, nunca está demás decir: Te quiero, te necesito, te extraño, y muchas otras frases que nos vienen a la mente decir, y no lo hacemos.  Se siente bien dar los buenos días, pedir disculpas, sonreír, practicar la buena educación, no más gritos, no más descalificaciones, ejercer la solidaridad.  No permitas que las situaciones que nos llegaron sin invitación te amarguen, hay que darle la vuelta a tu estado emocional. 

Pensar en el pasado me lleva a revisar mentalmente tantas cosas que me hicieron daño y me costaron tanto olvidarlas, que, prefiero tratar de no pensar, porque no puedo borrarlas y buscando para olvidarlas, las reencuentro y me inmovilizan mi futuro.

  


 ©Armando Africano

Caracas 5 de febrero de 2016 

Ilustración: Lisardo Rico Rattia

 

 

 

 

 

 

 

 

 


CUENTOS DE LA GAVETA: Cuento Escato i lógico “Un chispín”, por Armando Africano, Caracas, mayo 2018 / Ilustración: Lisardo Rico Rattia

 




Adolescente, antes de entrar a estudiar en la universidad, me inscribí en una academia de dibujo arquitectónico en el centro de Caracas que quedaba en un edificio frente al Congreso,  las clases terminaban al mediodía y me regresaba en un grandísimo autobús que me dejaba a tres cuadras de la casa. El día de este cuento fue realmente muy difícil y sudé como nunca creo haber sudado en mi corta vida.

Salgo rápido de la clase, con mucha hambre, es exactamente el mediodía -el momento en que la inmensa pepa de sol te ataca desde arriba- llega mi autobús, pago el pasaje, me siento y arranca… mi tortuosa aventura. Comienza con unos ruidos y movimientos como eléctricos en la barriga, me aflojo la correa del pantalón, comienzan unos retortijones, mi  pobre barriga brinca, suena, vibra, y yo con esa pena, ¿los estarán oyendo? ¿se habrán dado cuenta que esos sonidos vienen de mí? Menos mal que había poca gente.  Me tocaba fuerte la barriga, en silencio,  porque estaba muy asustado por lo que esos ruidos me estaban anunciando. Yo sentía que todas las paradas que realizó el autobús eran eternas, pero logré aguantar y llegué a mi destino, me bajé del autobús, descansé unos segundos -enderezándome- comencé a caminar como podía, pero a la media cuadra ya no podía más, el malestar y el movimiento en la barriga eran infernales, entonces decidí  detenerme pegado a una especie de columna pequeñita, creo que era de la CANTV, que había en la orilla del muro de una de las casas y comencé a pensar ¿y ahora? ¿qué puedo hacer? Y después de algunas alternativas que surgieron en mi mente -que ninguna era mejor que la otra-  como genio adolescente que se las sabe todas, decidí que, si lograba soltar un chispín, una gota, un trocito de eso que estaba amenazando salirse, se me calmaría y podría llegar a la casa sin problemas. Así que mirando para todos lados con muchísima pena porque en todas esas cuadras vivían familias conocidas,  pegado del  muro mirando para todo lados como pajarito en grama y sudando más que mantequilla en sartén,  me dije valientemente “¡que salga el chispín y ya!”.   

Me programé mentalmente y sentí que fue un segundo del puf… no creo que fueran más de dos segundos, qué alivio, me sentí mejor y me dije, ya puedo seguir, ahora agarro la carpeta con los cuadernos,  me pongo firme y arranco, bueno, traté de arrancar, porque cuando comencé a caminar no podía avanzar ni un paso, era increíble lo que realmente salió en ese puf, en lo que se había convertido el chispín, en una bola gigantesca, en el interior había como un inmenso pañal y los pasos que avance los retrocedí y volví a quedar pegado del muro. Y ¿ahora? ¿qué hago? Menos mal que los pantalones que se usaban en esa época eran  muy anchos, en la cintura, en las piernas, en el ruedo y podía, según me ordenó mi pensamiento, meter las manos por los lados del pantalón,  romper los interiores y formar una gran bola que bajaría por una de las piernas del pantalón.

Sigo actuando como pajarito en grama, además de sudado aterrorizado, y comienzo a ejecutar mi brillante idea salvadora, meto un brazo, rompo los lados de los interiores y logro hacer la gran bola envuelta en el interior y la dirijo por la pierna para así comenzar a bajarla poco a poco pero, nada más comencé a dirigirla hacia abajo, la gran bola se volteó y en caída libre bajó por toda la pierna con la tela del interior por el lado del pantalón y todo lo demás embarrando la pierna, medias, zapatos … Ya solo me quedaba terminar de sacarla y dejarla envuelta en varias hojas de mi cuaderno detrás de la especie de columna, cosa que hice, y arranco a caminar la cuesta, porque es una gran subida, para llegar a la casa; parecía  Michael Jackson bailando thriller, menos mal que no encontré a nadie conocido que me viera danzando con cara de susto y movimientos extraños de baile. Me faltaba solo una cuadra y media, pero a mí me pareció eterno, caminé como la canción, un pasito pa´ lante, un pasito pa´ trás, por supuesto que pegado a los muros de las casas que quedaban para terminar de llegar, todo muy lento, lentísimo, con ese gigantesco sol odiándome por asqueroso y cochino, hasta que llegué. Al entrar todos me vieron y me recibieron con un “¡qué bueno que ya llegó!”, “¡venga a almorzar de una vez!” y yo, mudo, seguí hasta la ducha y me metí con todo, a bañarme y a lavar zapatos, medias, pantalón, camisa, que gran momento por inventar que un chispín me ayudaría.   

Nadie se enteró hasta después de estar ya adulto, que resolví contar a modo de chiste algunas historias de eventos que, inevitablemente, quedaron en el recuerdo de esos días claves que guardamos apenados en la memoria y los recordamos para divertirnos o para hacernos sentir incomodos. Con el tiempo decidí burlarme de mí mismo buscando, o tratando, que la historia de mi vida fuera más ligera, simpática, más divertida, y he constatado que me ha ayudado mucho el utilizar el humor para relajar mis recuerdos.


©Armando Africano

Caracas, mayo de  2018

Ilustración: ©Lisardo Rico Rattia






Mario Vargas Llosa defiende a las mujeres: "Eufemismos que esconden el abuso sexual" / Washington,20 de noviembre de 2017, La Nación , El País


 

No alcanza con hablar de "conductas impropias" cuando se habla de hechos aberrantes que hoy comprometen a célebres figuras del espectáculo y la política


Depredadores sexuales


"A lo largo de muchos siglos, las mujeres 
han sido víctimas por el simple hecho de 
ser mujeres (...)  Por fin las cosas 
comienzan a cambiar."



Víctimas de depredadores sexuales




Washington D.C.- Desde que llegué a Estados Unidos hace una semana veo en los diarios y los programas de noticias en la televisión usar el delicado eufemismo "conducta impropia" para los abusos sexuales de todo orden cometidos por productores, artistas, políticos, a quienes el testimonio de sus víctimas está llevando a la ruina económica, el desprestigio social y podría incluso sepultar en la cárcel.
Inició esta estampida el caso de Harvey Weinstein, eminente y multimillonario productor de cine, ganador de todos los premios habidos y por haber, a quien cerca de medio centenar de mujeres, muchas de ellas jóvenes actrices que trataban de abrirse camino en Hollywood, han acusado de aprovecharse de su poderío en esta industria para violarlas o someterlas a prácticas indignas. Cuando algunas de sus víctimas lo amenazaban con denunciarlo, el magnate libidinoso usaba a sus abogados para aplacarlas con sumas de dinero a veces muy elevadas. Ahora, Weinstein se ha refugiado en una clínica de Escocia para seguir un tratamiento destinado a enflaquecerle la desmedida libido, pero la policía y los fiscales de Nueva York han anunciado que a su vuelta será detenido y juzgado. Entre tanto lo han expulsado de sinnúmero de asociaciones, le han pedido que devuelva muchos premios y, según la prensa, su ruina económica es ya un hecho
Parecida desventura ha vivido el actor Kevin Spacey, el malvado presidente de House of Cards, Frank Underwood, y ex director del Old Vic de Londres, que acosaba y manoseaba a los muchachos que se ponían a su alcance. Más de diez denuncias de actores o colaboradores de sus montajes teatrales, a quienes abusó, lo han puesto en la picota. Netflix ha cancelado aquella exitosa serie, lo han expulsado de sindicatos y colegios profesionales, le han retirado premios, anulado contratos y se cierne sobre su cabeza una lluvia de denuncias judiciales que podrían arruinarlo económicamente. Él también, como Weinstein, está ahora en aquella clínica escocesa que sosiega las libidos desorbitadas. Otros actores famosos, como Dustin Hoffman, asoman en estos días entre los famosos de "conducta impropia".





Un interesante debate ha surgido con motivo de estas denuncias y revelaciones auspiciadas por muchas asociaciones feministas y defensoras de derechos humanos. ¿La celebridad es atenuante o agravante de la falta cometida? Se cita el caso de Roman Polanski, el gran director de cine polaco que, hace varias decenas de años, drogó y violó a una niña de trece años en una casa de Hollywood -que le prestó otro famoso actor, Jack Nicholson-, a la que había citado allí con el pretexto de fotografiarla para una película. Descubierto, huyó a Francia -que no tiene acuerdo de extradición con los Estados Unidos-, donde ha proseguido una muy exitosa carrera de director de cine, coronada por muchos premios y celebrada por los críticos, muchos de los cuales censuran a la justicia norteamericana por perseguir con su vindicta, después de años, a tan celebérrimo creador.

Protesta contra los abusos sexuales en un homenaje reciente a
Polanski en París.  FOTO: GETTY

Yo, por mi parte, creo que no hay que mezclar el agua con el aceite y que uno puede aplaudir y gozar de las buenas películas del cineasta polaco y desear al mismo tiempo que la justicia de Estados Unidos persiga al prófugo que, además de cometer un delito horrendo como fue drogar y violar a una niña abusando del prestigio y poder que le había ganado su talento, huyó cobardemente de su responsabilidad, como si hacer buenas películas le concediera un estatuto especial y le permitiera los desafueros por los que se sanciona a todos los demás, esos seres anónimos sin cara y sin gloria que es el resto de la humanidad. Se puede ser un gran creador, como Louis-Ferdinand Céline o como el marqués de Sade, o como el propio Polanski, y una inmundicia humana que atropella y maltrata al prójimo creyendo que su talento lo exonera de respetar las leyes y la conducta que se exige a la "gente del común". Pero también es verdad que, a veces, el ser muy conocido y figurar mucho en la prensa despierta un curioso rencor, un resentimiento envidioso que puede llevar a ciertos jueces o policías a encarnizarse particularmente contra aquellos a los que, pillados en falta, se puede humillar y castigar con más dureza que al común de los mortales.

Uno puede aplaudir las películas de Polanski y desear al mismo tiempo que la justicia le persiga

Por eso mismo, el talento y/o la celebridad, que, no está de más recordarlo, no van siempre juntas, debería exigir una prudencia mucho mayor en la conducta de aquellos que, con justicia o sin ella, merecen o simplemente han logrado ser ensalzados y admirados por la opinión pública. Es un asunto delicado y difícil porque la popularidad ciega muy rápidamente a aquellos a quienes favorece -la vanidad humana, ya sabemos, no tiene límites- y les hace creer que de este privilegio se derivan también otros, como una moral y unas leyes que no le conciernen ni deben aplicársele del mismo modo que a esa colectividad anónima, hecha de bultos más que de seres humanos específicos, que los admira y quiere y debería por lo tanto perdonarles los excesos. La verdad es que ocurre lo contrario. Esos seres semidivinos, adorados ayer, mañana están por las patas de los caballos y la gente los desprecia con el mismo apasionamiento con que la víspera los envidiaba y adoraba.

Hace unas pocas horas escuché, en la televisión, a una señora que hace 40 años, cuando tenía l4 años, era camarera en un pueblecito de Alabama. Un cliente, que era juez y tenía 34 años -se llama Roy Moore-, se ofreció a llevarla a su casa en su auto. Ella aceptó. En el vehículo, el amable caballero se volvió una bestia, cogió la mano de la niña y la obligó a masturbarlo, explicándole que, si se atrevía luego a protestar y a denunciarlo, nadie le creería, precisamente porque él era un juez y un ciudadano muy respetado en la localidad. La jovencita nunca se atrevió a contar aquella historia, hasta ahora; pero no la olvidó y decía, sin atreverse a levantar los ojos, que había sido como un gusano que día y noche había vivido con ella royéndole la vida. Ahora, aquel juez es nada menos que el candidato a senador por el Partido Republicano en Alabama y por lo menos cinco mujeres han ido a la televisión a recordar abusos parecidos que padecieron en su juventud o niñez de aquel desaforado juez. Por lo menos en este caso parece que aquellos delitos no quedarán impunes. El propio Partido Republicano le ha pedido al ex juez que renuncie a su candidatura y, si no lo hace, las encuestas pronostican que perdería la elección.


En muchas partes del mundo la condición de la mujer
sigue siendo muy inferior
a la del hombre

A lo largo de muchos siglos, las mujeres, prácticamente en todas las culturas, han sido víctimas por el simple hecho de ser mujeres, un sexo que, en algunos casos, por cuestiones religiosas, y, en otros, por su debilidad física frente al hombre, eran las víctimas naturales de la discriminación, la marginación y la "conducta impropia" de los hombres, sobre todo en materia sexual. Por fin las cosas comienzan a cambiar, sobre todo en el mundo occidental, aunque en muchas partes de él, como América latina, la condición de la mujer siga siendo todavía, por el machismo reinante, muy inferior a la del hombre. En otros mundos, por ejemplo en el musulmán o el africano más primitivo, las mujeres siguen siendo ciudadanos de segunda clase, objetos u animales más que seres humanos, a los que se puede encerrar en un harén o someter a mutilaciones rituales para garantizar que tendrán una conducta sexual "apropiada". Un horror que tarda siglos de siglos en desaparecer.

20 de noviembre de 2017
Fuente: La Nación / El País



Mario Vargas Llosa es Premio Nobel de Literatura en 2010. Nacido en Arequipa (Perú) en 1936, es periodista, escritor y político. Estudió Letras y Derecho y colaboró en varias publicaciones, siendo editor, entre otras, de la revista Literatura. Al mudarse a París, se incorporó en la Agencia France Press y también trabajó en la Radio Televisión Francesa. En tierras peruanas, Vargas Llosa entró en la escena televisiva y en el mundo de la política, siendo derrotado por Alberto Fujimori en las presidenciales de 1990. Su colaboración con EL PAÍS, siendo una de las firmas más reconocibles del periódico en el panorama internacional, se inicia en 1993. Nombrado miembro de la Real Academia Española en 1994, su obra ha sido traducida a más de 30 idiomas.






Links relacionados






El actor de That '70s Show Danny Masterson, acusado de cuatro violaciones
















CUENTOS DE LA GAVETA: HOY… ME ALBOROTARON LA CULPA, por Armando Africano, Caracas, agosto de 2017/ Ilustración: Lisardo Rico Rattia





Me sucedió porque hoy hice algo fuera de mi ruta normal de precaución (casa – casa – casa), rompí mi rutina de vida repetida y salí a la superficie y me resultó: angustiante, alarmante, atormentante. 

 

Y no es que viva en una cueva, en un caserío lejano, en el pueblo de nunca jamás, o en un sótano súper secreto: yo vivo en un apartamento en el piso 40 de Parque Central yyyy comenzaré mi cuento por…

 

Había una vez un náufrago capitalino que se atrevió a romper su rutina “a la sombra” que vive a diario, decidí hacerlo porque ya como que olía a guardao y salí a refrescarme, a ver gente personalmente y fui directamente a montarme en el metro. En el trayecto al metro encuentro muchos vendedores ambulantes gritando su mercancía, algunos con mesitas, algunos paqueticos de mercancía, y unas hojas-letreros pegadas con teipe con el precio en dólares y oferta en mayúsculas, traté de comprar algo y no aceptan moneda nacional, bolívares, solo verdes, aparentemente nuevos, sin escritos ni marcas, ni arrugas. “Ya me fui pa otra cosa”. Paso a contar mi episodio en el metro. Bajé las necesarias escaleras y “logré” por suerte entrar de inmediato, aunque realmente no fue normal mi entrada, más bien dicho, me entraron a empujones… obviamente, me guindé como gancho de ropa y arranca mi aventura…

 

 Al cerrar las puertas del vagón, comienzan a acercarse pedidores de oficio: algunos te muestran una carpeta llena de radiografías, facturas, etc. -que por supuesto no se te ocurre querer ver-,contándonos de su problema médico (ya empiezas a sentirte mal por el pobre señor); del lado contrario salen a escena personajes haciendo: dúos, tríos, solistas con o sin instrumentos -dependiendo del vagón al que por azar entraste- que te cantagritan caminando por los vagones. Una pareja se nos acerca muy despacio pidiendo para su niño enfermo, pero, más enfermos se veían ellos, o era el aspecto que querían dar -ya me siento culpable de comentar esto- y aplico toda mi rudeza, diciéndome mentalmente  –no se le debe dar, nada, porque “esos” no tienen a nadie enfermo- “que comentario tan pesado”, metí mi mano derecha en el bolsillito y saqué un billetico todo arrugado de 10 bolívares y se los di y vuelvo a sentirme culpable ¿Será que he debido darles más? ¡Pobre muchachito! 


Pero la cruel memoria me trajo de inmediato a mi complicada mente el recuerdo de una pareja que utilizaba ese mismo truco (perdón, me vino la culpa ¿era truco lo del metro?) hace un tiempo, a la entrada del teatro Teresa Carreño. Una señora treintona muy angustiada era la que llevaba la voz cantante y un hombre cincuentón, muy flaco y alto, que se movía como perrito de taxi, afirmando todo y por momentos lloraba… nos hicieron una escena… muy bien montada por cierto, queríamos aplaudirlos, pero como ya nos habíamos salido del carro y estábamos a punto de seguir al Café Rajatabla, nos conformamos con sonreírles y casi que nos abrazamos a ellos de la angustia y preocupación que nos produjo la situación de su hermoso niñito, y todos nos miramos las caras y comenzamos a buscar dinero en todas partes: bolsillos, ceniceros, bolsos, carteras y les entregamos, “cual atraco”, con mucha pena “por no tener más”, y en ese acto bondadosísimo caímos los 5, le entregamos tooodooo, billetes, monedas y hasta consejos.

 

Cuando lentamente salía de escena la versátil pareja (siempre en su papel), una de las muchachas gritó:

 

-     - ¿Se van a pie? No, no, no, no, yo tengo que tener algún billete escondido (buscó desesperada en el bolso), aquí me queda este billetico, váyanse en taxi, el pobre niño no puede estar solo.

 

Y debido a la hemorragia de solidaridad, recuerdo que como la enfermedad del niño era ataque de asma, decidimos todos montarnos en el carro y acercarnos al lugar que dijeron estaba el pequeño -el Hospital de Niños- y llegamos cual película de drama. Una de las muchachas, la de la idea del taxi, salió corriendo a entrevistar a una enfermera, la que al ver la angustia y preocupación le informó que, en más de 15 días, no tenían ningún niño con ataque de asma.

 

Creo que lo del Teresa Carreño me dejó un poco enredado en relación a “creer o no creer, es la pregunta”, porque casi siempre reaccionamos cual prismacolor -por creyones-. “Los 5 cazados” del cuento del niño enfermo prometimos no darle dinero a más nadie, más nunca, cosa que por lo menos yo no cumplí, por eso de… “todos no son iguales” o “qué sabes tú si lo que te están contando es verdad”. 

 

Ya me desvié otra vez, me fui de lo que quería contar sobre mi culpa. Sigo guindado en el metro. Se nos acercó uno que, al entrar al metro, dio, mejor dicho gritó los buenos días y comenzó por regañar a los que no le contestaron su saludo, y de inmediato se lanzó un gran discurso acalorado -casi sin respirar- de su reciente salida de la cárcel y que necesitaba ayuda para poder regenerarse y que pertenecía a una asociación que cura a los adictos y, rasantemente, enseña un papel sellado con sus estampillas y firmas, contándonos que era su oficial salida de la cárcel ese mismo día, nadie le dio nada y se fue alejando hasta que el siguiente personaje que irrumpió en nuestro vagón fue un sordo mudo, con unos cuadritos de papel fotocopiado (volantes) en el que nos pedía ayuda, que nos daba la Feliz Navidad, en agosto, las navidades son muy emotivas, y… me volvió la culpa y saqué otro billetico, se lo entregué bajo sospecha.


Llegué al centro comercial a donde tenía destinado ir y caminé por los dos primeros pisos, había muchísima gente haciendo lo mismo que yo, curioseando y viendo cosas que no podía comprar e, inmediatamente, decidí devolverme pero en camionetica. Me coloqué en la parada y llegó mi esperado transporte público, con la suerte que logré entrar, y me enteré después que no me podía bajar, que el chofer que me tocó era la versión criolla de Fangio, nos llevaba como si todos los pasajeros, al entrar, como en la películas, le hubiéramos dicho a coro “vamos rápido, siga ese carro”. Me volví a guindar cual gancho de ropa y respiré varias veces tratando de relajarme un poco, hasta que sentí un desagradable olor, alguien se le ocurrió lanzar una ventosidad, obviamente sin sonido, pero con mucho olor,  hediondísimo, y todos comenzamos a mirarnos con caras de angustia, desesperación y sobre todo de sospecha, porque no pudimos seguir las huellas del espontáneo peorro, parecía que todos resolvimos culparnos con la mirada unos a otros y tratando todos a la vez de acercarnos a la ventanilla, pero era imposible por el gentío; sentí algunas risas nerviosas y unas señoras gritando y contrapunteando cochinos, asquerosos, sucios, para ellas fue un hombre el donador, y con una mano apretando la nariz como gancho de ropa,  llegué a mi destino, con el olor pegado de la nariz y con el corazón y los riñones en el cuello.

  

Me volví a perder en mi cuento de culpabilidad. Acotación: por supuesto que tuvimos una gran variedad de “comerciantes” vendiendo caramelos, chocolates, agua, etc. que lograban asomarse y anunciar su mercancía. Este chofer no dejaba entrar a los pedigüeños por necesidad, los sacaba cuando se daba cuenta, “nada de pedigüeños aquí” y tampoco tenían espacio para realizar su performance (me volvió la culpa al sentirme solidario con el chofer). 

 

Logré bajarme y me dirigí a mi casa atravesando por el pasillo debajo de la avenida Bolívar y me encontré con un señor que es ciego, ¿será ciego?, siempre que lo veía me hacía la misma pregunta (qué malpensado y retorcido soy). Este señor se para todos los días en una escalera muy angosta al final de ese pasillo, y se coloca en la mitad obstruyendo media escalera, porque estira tanto el brazo con su latica que a la gente solo le queda una vía, ya que es salida y entrada. Obviamente es doble vía, que es ida y vuelta para todos, pero tratar de pasar por ahí se vuelve un semáforo fuera de servicio con una sola vía, y tú pasas renegando del señor atravesado porque tienes que hacer cola para pasar y, y, y, y, y, y  vuelve la culpa, la misma o parecida a la que comencé a contar al principio… pobre señor… es ciego. 

 

Volviendo a mi salida no habitual, que fue realmente o es siempre turismo de aventura, hoy me llené de culpa una vez más y juro que no soy culpable y además no quiero tener la culpa, además ¿DE QUÉ? El asunto es que cuando vuelva a salir a la superficie, ¿salgo con gríngolas? o me autocensuro. (Viene el auto regaño). ¿Pero qué te pasa? ¿Qué te piensas? ¿Que eres hermano y vivías con Alicia, la del país de las maravillas? ¿O que nací y viví siempre en la Isla de la Fantasía? Mijitico, ¿dónde vives tú? O será que al querer tratar de ayudar y no saber cómo, ¿me desubico? 

 

Tengo tanto tiempo “guardado sin ser semilla” que, definitivamente, estoy desubicado, ¿será genético? ¿por qué pienso eso? Creo que es genético, debo pensar y asimilar que soy un desubicado y que me desubiqué a propósito… para no sentir culpa… porque ¡¡¡SOY INOCENTE!!! 

 

©Armando Africano

Caracas, agosto de 2017

Ilustración: Lisardo Rico Rattia